2 de mai. de 2013

Intervenção nas comemorações do 25 Abril em Rio Tinto


Ao celebrarmos o 25 de Abril, festejamos a vitória da liberdade sobre a ditadura, o triunfo da democracia sobre o autoritarismo.
Em 1974, foi premente fazer uma revolução para mudar de regime e construir um estado democrático.
É inevitável que se fale naqueles que a tornaram possível, pois foi graças a eles, aos corajosos militares de Abril, que enfrentaram sem temor o regime fascista.
Na altura, foi essencial, para a consolidação do novo regime, que Portugal projectasse para o exterior a imagem de um país livre e responsável, um Estado plenamente integrado na comunidade internacional e merecedor de respeito.
Ao longo de um caminho difícil, conseguimos, em poucos anos, mudar de regime, realizar eleições livres, fazer uma Constituição que ainda hoje vigora e aderir de pleno direito às Comunidades Europeias.

Passaram-se então 39 anos!
Hoje festejamos esta importante data.
Mas não estamos particularmente felizes!
Os tempos que atravessamos, são dos mais difíceis da nossa história mais recente, onde liberdade, verdade e desenvolvimento continuam a ser paradoxos que nos fazem pensar, num quadro de preocupações cada vez mais latente.

Liberdade de acção em tempos de novas ditaduras, subjugadas aos interesses económicos, dos mais ricos sobre os mais fracos, onde hoje, sentimos que afinal a liberdade que nos foi oferecida pelos militares, não foi para benefício do nosso povo, tantos anos sacrificado.
Hoje, os sacrifícios continuam, de forma mais violenta. Pelo que, essa liberdade não está, totalmente conseguida.

Verdade, é a verdade que falta, tantas vezes nos actos, nos relatórios e nas palavras das instituições onde se ancora a subsistência das comunidades.

E Desenvolvimento, que é uma premissa que tem de estar permanentemente em vigor.

Evocar Abril é lançar esperança e abrir caminho para novos desígnios, mas onde o cidadão é, e terá de ser sempre, o centro das preocupações.
Comemorar Abril significa acreditar no futuro, mas se há altura em que faz mais sentido apelar aos sentimentos que fizeram o 25 de Abril, é este o momento!

O país, precisa de pequenas revoluções diárias, quer no nosso dia-a-dia profissional, quer na nossa comunidade, enquanto espaço aberto à cidadania e ao desejo de lutar por um país que resiste, um país que tem potencialidades e oportunidades suficientes para se afirmar. E tanto é válido um discurso numa assembleia, como uma mobilização popular, porque tudo faz corrente e quem governa tem de saber interpretar as correntes e os sinais das populações, atendendo sempre à necessidade de salvaguarda do Estado Social, como garante da sobrevivência mínima e apoio indispensável a uma melhor qualidade de vida dos cidadãos em geral.

Este país, vítima do capitalismo selvagem, tem de seguir novo rumo.
Este país dominado por lobbies, tem de fazer da Justiça uma bandeira e agitá-la de modo a evitar uma maior degradação do sistema político e económico. Ninguém resiste ao sentimento de impunidade de alguns, quando se é forte com os fracos!

Abril é tempo de dizer basta a certos desvarios, que não são um exclusivo da classe política, mas de tantas classes que minam o Estado!

Nós, e as futuras gerações, somos os herdeiros duma revolução! Teremos assim que ser também nós, todos, a combater contra os poderes exorbitantes dos novos “senhores do planeta”: os mercados financeiros, as grandes multinacionais, o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Central Europeu (BCE), a União Europeia (UE), entre outros.

Neste dia em que comemoramos a revolução dos cravos, devemos erguer a nossa voz e juntá-la às demais, onde o global chega às nossas terras, com o que de bom a ciência proporciona, mas com todos os efeitos colaterais das guerras de mercados financeiros, comandados por homens sem escrúpulos.

E assim se aplica ao nosso concelho a mesma visão do mundo: de problemas, de controvérsias, de dificuldades, mas também de soluções.
E assim se pode dizer com toda a propriedade que, também localmente, aqui em Rio Tinto, a melhor alavanca para o progresso é, desde logo, o entusiasmo, a dedicação e o gosto que as pessoas põem naquilo que fazem e o espírito de iniciativa que empreendem.
Na mobilização colectiva que é preciso fazer, deve por isso conjugar-se experiência e juventude, conhecimento técnico e científico com sabedoria popular.



É tempo de todos sabermos separar o essencial do acessório. De todos nos mobilizarmos em torno desse grande desígnio, que é o da criação de postos de trabalho, para o aumento da riqueza no nosso concelho e freguesia. Não é fácil criar empregos, mas o nosso rumo não pode sair dessa linha.
Lá fora, as populações esperam dos políticos locais, acções e políticas concretas, que dêem frutos e de preferência no imediato, porque o tempo não tem contemplações.



Por isso também, devemos fazer desta tribuna um lugar para procurar influenciar o executivo para aquilo que entendemos que é o melhor para a nossa freguesia, sem tibiezas ou falsos moralismos, porque todos temos esse dever.
Aqui é o lugar da palavra e como em Abril, a palavra é uma arma. Saibamos nós utilizá-la. Saibamos nós interpretar as palavras de cada um, neste quadro complexo em que nos movimentamos.
Não podemos pensar que não adiantamos nada em falar. Temos de falar. Temos de nos entusiasmar, de dar animo uns aos outros, para puxarmos pelo entusiasmo e dinamismo e contagiarmos esse dinamismo lá para fora, para o sector económico, cultural e social da nossa comunidade.



Cumprir Abril é fazer justiça para com as populações que reclamam há décadas, sem ser ouvidas e atendidas, como acontece em matéria de acessibilidades ou quando temos necessidade de apoio médico e medicamentosa através do SNS.
Neste dia histórico em que assinalamos a revolução que conduziu Portugal à liberdade e ao progresso, quero aqui também lembrar o papel do poder local no desenvolvimento do país em geral, do nosso concelho e em particular da nossa freguesia.

Por estas razões, é crucial para a qualidade da nossa Democracia que todos os cidadãos, sem excepção, participem activamente na discussão e na decisão dos assuntos que dizem respeito ao bem comum, e que o façam tanto no seio das famílias, como nas tertúlias, nas associações da sociedade civil, nas organizações políticas ou em qualquer outro palco, que cada um de nós tenha a responsabilidade e o dever de contribuir para o aperfeiçoamento do sistema democrático que nos rege, melhorando-o dia após dia, perseguindo incessantemente o sonho que deu corpo às motivações dos heróicos Capitães de Abril.


Por tudo isto o 25 de Abril ainda não cumpriu a sua missão. Por tudo isto a memória do 25 de Abril deve ser continuamente invocada.
Sente-se que o povo está no limite da sua paciência com as actuais políticas ditadas e comandadas pelos chamados mercados financeiros, que outra coisa não são do que fantoches do capitalismo.
À conta das suas investidas capitalistas, verificamos que poucos de nós irão ter capacidade de resistir.
Nunca as troikas mercantilistas, ao serviço dos grandes grupos financeiros mundiais, deixarão de perseguir os pequenos e mais fragilizados, até conseguirem a sua submissão.
A defesa do que resta das conquistas de Abril soará como frase vazia se não for parte de uma acção apontada para o futuro, que faça frente ao capitalismo de hoje e ao seu cortejo de misérias actuais.
E onde está o 25 de Abril?!
Ele continua adiado! Caberá a todos nós lutar para fazê-lo renascer!
Enquanto tivermos forças para lutar, seguiremos em frente, na procura dos caminhos da solidariedade e do desenvolvimento humano que pretendemos para o nosso país e para a nossa terra, sempre na busca de uma sociedade mais justa e igualitária, onde um homem não possa ser explorado por outro homem.
Por tudo isto, hoje, sentimos ainda mais necessidade de gritar à semelhança do que ocorreu em Abril.

Há quase quarenta anos, demos um exemplo ao mundo. Os cravos anunciaram um país livre e por isso acreditamos em valores que consideramos cada vez mais fundamentais para a humanidade: a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade, mas sentimos que é difícil falar destes valores aos mais de um milhão de portugueses que se encontram desempregados e sem perspectivas.

Passados todos estes anos após o 25 de Abril, não foram ainda atingidos, no todo nacional, alguns preceitos fundamentais da nossa Constituição, nomeadamente:
A Educação,
A Habitação,
O Emprego,
A Saúde,
A Justiça.
Isto significa, que nestes 39 anos de avanços e recuos, continua por cumprir Abril. Abril que tinha como objectivo principal a Igualdade de Oportunidades para todos.
Importa, por isso, que se faça um grande esforço, para que essas oportunidades sejam implementadas com celeridade, para que possamos, de facto, considerar-nos um país justo, equilibrado e solidário.
Importa neste dia saber, principalmente o que pensam os nossos jovens, passados que foram estes anos. Será que se cumpriu Abril? Será que Portugal não irá precisar deles?

Por isso Abril não pode ser Abril sem se enfrentar os problemas de hoje, pois muitos que eram os de ontem, são os de hoje e não fomos capazes de os solucionar.

Não podemos continuar impávidos a assistir ao decrescimento constante da cultura e do saber, bem como indícios de falta da qualidade no nosso ensino.
Não podemos continuar impávidos assistir a um aumento assustador do crime organizado.
Não podemos continuar impávidos e complacentes à corrupção que grassa na nossa sociedade, sem que se tomem medidas efectivas para a erradicar.
Não podemos continuar a assistir impávidos, ao encerramento de empresas que quase todos os dias colocam centenas de portugueses, Homens e Mulheres, no desemprego e no desespero.
Não podemos continuar indiferentes aos problemas dos cidadãos com deficiência e promover rapidamente a sua inserção na sociedade.
Não podemos continuar impávidos aos que no silêncio das suas casas, por vergonha, passam fome e que não têm condições para sobreviver.

A importância que pretendemos dar a este acto – Evocar Abril – tem de ser para todos nós, e para os Portugueses em geral, um acto de consciência cívica, que seja a de trabalhar, dia-a-dia, para o um país mais justo e mais solidário.
Esta é a minha preocupação, esta será, tenho a certeza, a preocupação de todos vós, esta será de certeza, a única razão que nos poderá levar a continuar a - Evocar Abril.
  
A Luta Continua!

VIVA A LIBERDADE!
  
25 DE ABRIL, SEMPRE!

Rio Tinto, 25 de Abril de 2013
Davide da Costa

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