Ao celebrarmos o
25 de Abril, festejamos a vitória da liberdade sobre a ditadura, o triunfo da
democracia sobre o autoritarismo.
Em
1974, foi premente fazer uma revolução para mudar de regime e construir um
estado democrático.
É inevitável que se fale naqueles que a tornaram
possível, pois foi graças a eles, aos corajosos militares de Abril, que
enfrentaram sem temor o regime fascista.
Na altura, foi essencial, para a
consolidação do novo regime, que Portugal projectasse para o exterior a imagem
de um país livre e responsável, um Estado plenamente integrado na comunidade
internacional e merecedor de respeito.
Ao longo de um caminho difícil,
conseguimos, em poucos anos, mudar de regime, realizar eleições livres, fazer
uma Constituição que ainda hoje vigora e aderir de pleno direito às Comunidades
Europeias.
Passaram-se então 39 anos!
Hoje festejamos esta importante data.
Mas não estamos particularmente
felizes!
Os
tempos que atravessamos, são dos mais difíceis da nossa história mais recente,
onde liberdade, verdade e desenvolvimento continuam a ser paradoxos que nos
fazem pensar, num quadro de preocupações cada vez mais latente.
Liberdade
de acção em tempos de novas ditaduras, subjugadas aos interesses económicos,
dos mais ricos sobre os mais fracos, onde hoje, sentimos que afinal a liberdade que nos foi
oferecida pelos militares, não foi para benefício do nosso povo, tantos anos
sacrificado.
Hoje, os
sacrifícios continuam, de forma mais violenta. Pelo que, essa liberdade não
está, totalmente conseguida.
Verdade,
é a verdade que falta, tantas vezes nos actos, nos relatórios e nas palavras
das instituições onde se ancora a subsistência das comunidades.
E
Desenvolvimento, que é uma premissa que tem de estar permanentemente em vigor.
Evocar
Abril é lançar esperança e abrir caminho para novos desígnios, mas onde o
cidadão é, e terá de ser sempre, o centro das preocupações.
Comemorar
Abril significa acreditar no futuro, mas se há altura em que faz mais sentido
apelar aos sentimentos que fizeram o 25 de Abril, é este o momento!
O
país, precisa de pequenas revoluções diárias, quer no nosso dia-a-dia
profissional, quer na nossa comunidade, enquanto espaço aberto à cidadania e ao
desejo de lutar por um país que resiste, um país que tem potencialidades e
oportunidades suficientes para se afirmar. E tanto é válido um discurso numa
assembleia, como uma mobilização popular, porque tudo faz corrente e quem
governa tem de saber interpretar as correntes e os sinais das populações, atendendo
sempre à necessidade de salvaguarda do Estado Social, como garante da
sobrevivência mínima e apoio indispensável a uma melhor qualidade de vida dos
cidadãos em geral.
Este
país, vítima do capitalismo selvagem, tem de seguir novo rumo.
Este
país dominado por lobbies, tem de fazer da Justiça uma bandeira e agitá-la de modo
a evitar uma maior degradação do sistema político e económico. Ninguém resiste
ao sentimento de impunidade de alguns, quando se é forte com os fracos!
Abril é tempo de dizer basta a certos desvarios, que não são um exclusivo da
classe política, mas de tantas classes que minam o Estado!
Nós, e as
futuras gerações, somos os herdeiros duma revolução! Teremos assim que ser
também nós, todos, a combater contra os poderes exorbitantes dos novos
“senhores do planeta”: os mercados financeiros, as grandes multinacionais, o
Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Central Europeu (BCE), a União Europeia
(UE), entre outros.
Neste
dia em que comemoramos a revolução dos cravos, devemos erguer a nossa voz e
juntá-la às demais, onde o global chega às nossas terras, com o que de bom a
ciência proporciona, mas com todos os efeitos colaterais das guerras de
mercados financeiros, comandados por homens sem escrúpulos.
E
assim se aplica ao nosso concelho a mesma visão do mundo: de problemas, de
controvérsias, de dificuldades, mas também de soluções.
E assim se pode dizer com toda a propriedade que, também localmente, aqui em
Rio Tinto, a melhor alavanca para o progresso é, desde logo, o entusiasmo, a
dedicação e o gosto que as pessoas põem naquilo que fazem e o espírito de
iniciativa que empreendem.
Na mobilização colectiva que é preciso fazer, deve por isso conjugar-se
experiência e juventude, conhecimento técnico e científico com sabedoria
popular.
É
tempo de todos sabermos separar o essencial do acessório. De todos nos
mobilizarmos em torno desse grande desígnio, que é o da criação de postos de
trabalho, para o aumento da riqueza no nosso concelho e freguesia. Não é fácil
criar empregos, mas o nosso rumo não pode sair dessa linha.
Lá fora, as populações esperam dos políticos locais, acções e políticas
concretas, que dêem frutos e de preferência no imediato, porque o tempo não tem
contemplações.
Por
isso também, devemos fazer desta tribuna um lugar para procurar influenciar o
executivo para aquilo que entendemos que é o melhor para a nossa freguesia, sem
tibiezas ou falsos moralismos, porque todos temos esse dever.
Aqui
é o lugar da palavra e como em Abril, a palavra é uma arma. Saibamos nós
utilizá-la. Saibamos nós interpretar as palavras de cada um, neste quadro
complexo em que nos movimentamos.
Não podemos pensar que não adiantamos nada em falar. Temos de falar. Temos de
nos entusiasmar, de dar animo uns aos outros, para puxarmos pelo entusiasmo e
dinamismo e contagiarmos esse dinamismo lá para fora, para o sector económico,
cultural e social da nossa comunidade.
Cumprir
Abril é fazer justiça para com as populações que reclamam há décadas, sem ser
ouvidas e atendidas, como acontece em matéria de acessibilidades ou quando temos necessidade de apoio
médico e medicamentosa através do SNS.
Neste
dia histórico em que assinalamos a revolução que conduziu Portugal à liberdade
e ao progresso, quero aqui também lembrar o papel do poder local no desenvolvimento
do país em geral, do nosso concelho e em particular da nossa freguesia.
Por estas
razões, é crucial para a qualidade da nossa Democracia que todos os cidadãos,
sem excepção, participem activamente na discussão e na decisão dos assuntos que
dizem respeito ao bem comum, e que o façam tanto no seio das famílias, como nas
tertúlias, nas associações da sociedade civil, nas organizações políticas ou em
qualquer outro palco, que cada um de nós tenha a responsabilidade e o dever de
contribuir para o aperfeiçoamento do sistema democrático que nos rege,
melhorando-o dia após dia, perseguindo incessantemente o sonho que deu corpo às
motivações dos heróicos Capitães de Abril.
Por tudo
isto o 25 de Abril ainda não cumpriu a sua missão. Por tudo isto a memória do
25 de Abril deve ser continuamente invocada.
Sente-se que
o povo está no limite da sua paciência com as actuais políticas ditadas e
comandadas pelos chamados mercados financeiros, que outra coisa não são do que
fantoches do capitalismo.
À conta das
suas investidas capitalistas, verificamos que poucos de nós irão ter capacidade
de resistir.
Nunca as
troikas mercantilistas, ao serviço dos grandes grupos financeiros mundiais,
deixarão de perseguir os pequenos e mais fragilizados, até conseguirem a sua
submissão.
A
defesa do que resta das conquistas de Abril soará como frase vazia se não for
parte de uma acção apontada para o futuro, que faça frente ao capitalismo de
hoje e ao seu cortejo de misérias actuais.
E onde está o 25 de Abril?!
Ele continua
adiado! Caberá a todos nós lutar para fazê-lo renascer!
Enquanto
tivermos forças para lutar, seguiremos em frente, na procura dos caminhos da
solidariedade e do desenvolvimento humano que pretendemos para o nosso país e
para a nossa terra, sempre na busca de uma sociedade mais justa e igualitária,
onde um homem não possa ser explorado por outro homem.
Por tudo isto,
hoje, sentimos ainda mais necessidade de gritar à semelhança do que ocorreu em
Abril.
Há quase
quarenta anos, demos um exemplo ao mundo. Os cravos anunciaram um país livre e por
isso acreditamos em valores que consideramos cada vez mais fundamentais para a
humanidade: a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade, mas sentimos que é
difícil falar destes valores aos mais de um milhão de portugueses que se
encontram desempregados e sem perspectivas.
Passados todos estes anos após o 25 de Abril, não foram
ainda atingidos, no todo nacional, alguns preceitos fundamentais da nossa
Constituição, nomeadamente:
A Educação,
A Habitação,
O Emprego,
A Saúde,
A Justiça.
Isto significa, que nestes 39 anos
de avanços e recuos, continua por cumprir Abril. Abril que tinha como objectivo
principal a Igualdade de Oportunidades para todos.
Importa, por isso, que se faça um
grande esforço, para que essas oportunidades sejam implementadas com
celeridade, para que possamos, de facto, considerar-nos um país justo,
equilibrado e solidário.
Importa neste dia saber,
principalmente o que pensam os nossos jovens, passados que foram estes anos.
Será que se cumpriu Abril? Será que Portugal não irá precisar deles?
Por isso Abril não pode ser Abril
sem se enfrentar os problemas de hoje, pois muitos que eram os de ontem, são os
de hoje e não fomos capazes de os solucionar.
Não podemos
continuar impávidos a assistir ao decrescimento constante da cultura e do
saber, bem como indícios de falta da qualidade no nosso ensino.
Não podemos
continuar impávidos assistir a um aumento assustador do crime organizado.
Não podemos
continuar impávidos e complacentes à corrupção que grassa na nossa sociedade,
sem que se tomem medidas efectivas para a erradicar.
Não podemos
continuar a assistir impávidos, ao encerramento de empresas que quase todos os
dias colocam centenas de portugueses, Homens e Mulheres, no desemprego e no
desespero.
Não podemos continuar indiferentes
aos problemas dos cidadãos com deficiência e promover rapidamente a sua
inserção na sociedade.
Não podemos continuar impávidos aos
que no silêncio das suas casas, por vergonha, passam fome e que não têm
condições para sobreviver.
A importância que pretendemos dar a
este acto – Evocar Abril – tem de ser para todos nós, e para os Portugueses em
geral, um acto de consciência cívica, que seja a de trabalhar, dia-a-dia, para
o um país mais justo e mais solidário.
Esta é a
minha preocupação, esta será, tenho a certeza, a preocupação de todos vós, esta
será de certeza, a única razão que nos poderá levar a continuar a - Evocar
Abril.
A Luta
Continua!
VIVA A
LIBERDADE!
25
DE ABRIL, SEMPRE!
Rio
Tinto, 25 de Abril de 2013
Davide
da Costa